Caio Ribeiro revela bastidores fortes de saída do Botafogo e diz: ‘Depois fui convidado para ser diretor de futebol’

YouTube/Charla Podcast

Hoje comentarista do Grupo Globo, Caio Ribeiro encerrou sua carreira como jogador de futebol profissional no Botafogo, em 2005. Perguntado sobre o tema, no “Charla Podcast”, o ex-atacante abriu o jogo e contou bastidores fortes do período.

– Parei com 30 anos. Tinha mais uns cinco ou seis anos de carreira. Foram alguns fatores, um deles uma discussão que tive no Botafogo, no meu último ano. Começamos como líderes, nos mantivemos em zona de Libertadores e terminamos na Sul-Americana. O Flamengo estava para cair. Vamos para o jogo, clássico em Volta Redonda, estava 1 a 0 para o Botafogo, com um a mais, falamos “vamos matar o jogo”. Resumo da história: os caras viraram, 3 a 1. Estou chegando no carro, ia voltar com meu assessor, no vestiário o Bebeto (de Freitas, presidente) esculacha a gente, e ele tinha razão. Não poderíamos perder da maneira que perdemos, mas são coisas do futebol, acontece. Era um jogo nas nossas mãos, não podíamos tomar três gols. Ouvimos tudo que o Bebeto tinha a falar, vem o repórter Cícero Mello dizendo que o Carlos Augusto Montenegro, então vice de futebol, deu entrevista dizendo que “vai ter lista de dispensa, que é um grupo de sem vergonha, que não merece vestir a camisa do Botafogo”. Falei que sou funcionário, não ouvi a entrevista, queria ouvir primeiro para depois responder. Ouvi no rádio depois. Ele fala “bando de sem-vergonhas, que foram coniventes com situação do Flamengo, que não tiveram coragem de rebaixar o rival, que ia ter lista de dispensa”. E meu nome estaria nela. Você pode não gostar de mim como jogador, achar que não jogo bem, mas não pode atacar minha integridade. É uma questão de valores – iniciou.

– No dia seguinte era folga, marcaram reapresentação. Na hora que chegamos, o Bebeto não foi, só o Montenegro e um senhorzinho. Estava todo mundo sentado, chateado, paralelamente combino com meu empresário que não vestiria mais a camisa do Botafogo. Marquei uma coletiva, ia falar coisas que deviam ser faladas. Montenegro fez três perguntas: o que aconteceu para perdermos com um a mais, segundo o que iríamos fazer para reparar a vergonha e terceiro se queríamos que o Celso Roth saísse. “Vou sair, em cinco minutos quero minhas respostas.” Perguntei se alguém fez de sacanagem. Fui muito atacado, atrelaram as críticas ao meu nome, Alex Alves e Guilherme, porque eram os maiores salários. “Não admito isso, para mim a temporada acabou. Montenegro vai voltar, deixa eu falar, antes mesmo da coletiva. Eu sou o cara mais equilibrado, sei o que quero falar, por favor não me interrompam”. Montenegro volta, “Tenho minhas respostas?” Na hora que eu ia falar, Scheidt, como capitão e líder, foi muito bem, falou que ninguém entregou de sacanagem, que para apagar iríamos classificar para a Sul-Americana. Em relação ao que aconteceu, é do futebol, ninguém fez de sacanagem. E o Roth não tinha culpa de nada, a responsabilidade é dos jogadores. “Se você dispensar um, vai ter que dispensar todos e jogar com juniores”. Eu falei “Montenegro, tenho uma pergunta para você. Você é vice-presidente de um dos maiores clubes do mundo, que deu Garrincha, Zagallo, Túlio, ou você é um boleirão chefe de torcida? Você me acusou de sem-vergonha, vagabundo, que entregou o jogo para o Flamengo e foi conivente. Em nenhum momento protegeu esse elenco que está há três meses sem salário, que não tem internet, que treina em cima do shopping e dá uma dor do caramba no tendão de Aquiles. Nunca falei que quando fui assinar o contrato acabou a luz, tive que assinar no shopping, porque vocês não pagaram a conta. Você expôs os seres humanos, não os atletas”. Resumo da história, o Montenegro fala “quero pedir desculpas”. O senhorzinho do lado dele se apresentou, falou que ajudava a pagar os salários, que era vice-presidente de banco e que estava satisfeito em ver nossa indignação. Pediram desculpas a nós e ao Roth – acrescentou.

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Caio Ribeiro reviu seus planos e seguiu jogando pelo Botafogo até o fim de 2005, mesmo tendo que encarar polêmicas.

– No jogo com o Coritiba, ganhamos de 2 a 0, faço um golaço. Montenegro perguntou se o desculpo, falo que desculpo se ele pedir publicamente. Ele me chama na coletiva, pede desculpas, fala que é apaixonado, muito passional, gostaria de me pedir desculpas e elogia meu caráter. Desculpas aceitas. Se fez muita bobagem, teve humildade de pedir desculpas. O último jogo foi com Fortaleza, se ganhássemos ia para a Sul-Americana, após dez anos sem disputar uma competição internacional. Durante a semana, um repórter pergunta de quem é culpa para termos começado na liderança e terminarmos brigando por Sul-Americana, falo que “a pergunta é muito boa, mas não é hora de eu responder. Hoje preciso focar na Fortaleza”. Estou na Ponte Rio-Niterói, minha mãe me liga e pergunta o que aprontei. Todos os veículos de comunicação estavam dizendo que prometi declaração bombástica para após o jogo. Não tinha feito isso. Era época de Orkut, não se dá senha do Orkut para a namorada, não é minha esposa de hoje. Eu dei. Falei “minha senha é essa, dá uma olhada se estão me xingando”. Dez minutos depois, ela me liga, “não consegui ler todas, mas o torcedor do Botafogo que mais te ama quer matar sua mãe” – recordou.

– Sexta à noite, três meses de salários atrasados, eu tinha vindo para não deixar o Botafogo cair em 2004, faço oito gols em 12 jogos, talvez não estivesse sentindo a pressão, não caímos, no jogo com o Athletico-PR. Quem não continuou no Botafogo teve que buscar na Justiça. Eu renovei, falei “me paga o que ficou para trás e começamos uma nova história”. Éramos líderes, PC Gusmão aceita proposta do Cruzeiro, inventa confusão com diretoria e sai. Aí, votação, “vamos votar e não treinar sábado”. Falei “pelo amor de Deus, estamos do lado correto, não expomos o clube, vamos terminar bem. Se fizermos greve, estamos mortos”. De 30 jogadores, fui o penúltimo, estava 28 a 0. Foi o 29º, falei “sou completamente contra, faço questão de registrar. Estamos comprando briga maior do que podemos, se não ganharmos do Fortaleza estamos mortos”. Foi 28 a 2, Ricardinho votou comigo. Chamamos o Roth, ele falou “vocês estão loucos, não vamos permitir”. Por isso que falo que as diretorias mentem muito, jogam o jogo, passam mensagem para a torcida. Roth falou para a imprensa que iríamos concentrar sexta e combinou de nós dizermos que em protesto não iríamos concentrar, mas treinar sim. O que sai na imprensa? “Caio encabeça greve para time não treinar”. Fui o único a votar contra. Eu fui o primeiro a falar isso, e a porrada veio em mim, como se eu fosse o pivô da crise. Virou o jogo da minha vida. Falaram para o Scheidt, “não vamos pagar e se vocês perderem vamos abrir o portão da organizada, para ver vocês apanhando em campo”. Acabou 2 a 0 para nós, faço um dos gols, sou eleito o melhor em campo, foi meu último jogo. Acaba, vem todo mundo da imprensa atrás de mim. Hoje olho em todos os lugares e entro pela porta da frente, porque sempre fui muito profissional, inclusive no Botafogo. Falei “Bebeto está ali, naquele camarote, foi dito que os salários estão em dia, que está tudo em certo, perguntem a ele. Se falar isso, eu vou falar”. Aí o Bebeto malandramente fala “não, nesse momento temos que enaltecer o grupo, competição internacional, existem pendências, mas vamos pagar”. Todo mundo falou “opa, o Caio não estava mentindo”. Até a torcida ficou a meu favor – contou.

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O desfecho foi um convite inesperado tempos depois.

– Passam quatro ou cinco meses, faço faculdade de gestão, começo como comentarista na Rádio Globo, toca meu telefone, era o Montenegro me convidando para ser diretor de futebol. Falo “obrigado, a forma que eu saí não foi como eu gostaria, apesar de termos nos classificados, mas uma maneira de entender que a relação é especial é esse convite. Mas não posso assumir, os salários estão atrasados, não estou pronto”. Nesse momento falei “obrigado, abro mão”. Mas foi gratificante, mostrou que as coisas estavam resolvidas – completou.

Fonte: Redação FogãoNET e Charla Podcast

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